No último domingo (22), enquanto a Globo exibia o “Fantástico”, a Rede TV! resolveu usar o apresentador do dominical da concorrente como alvo de chacota. Baseado em “rumores” que dão conta de que Zeca Camargo e o ex-jogador de futebol Raí estão envolvidos romanticamente, o “Saturday Night Live” criou um personagem chamado “Zeca Chuteira” e fez um número musical ilustrando uma sátira do jornalista e do craque juntos. O esquete teve direito a versos de gosto para lá duvidoso como ”Bola nas costas não altera o placar” e insinuou que três apresentadores da casa são homossexuais (No verso “Na Rede TV! é quase banal” foram mostrados Nelson Rubens, Gilberto Barros, Doutor Rey). Não satisfeito, o programa ainda “tirou do armário” personalidades que se dizem heterossexuais e as relacionou com outras que assumiram sua homossexualidade (“Boninho já escalou a seleção globo: o capitão do time é o Gianecchini. Ney Latorraca, Jorginho e Nanini. Pivô central é o gato Bial e o Falabella eu já sei que é o liberô geral”).
Não há como não encarar um quadro como este como mais uma tentativa de ganhar manchetes ou desespero por audiência. Desde a estreia, dificilmente a atração comandada por Rafael Bastos ultrapassa o 1 ponto de audiência e tem pouco repercutido. Atirar em alvos populares pode ser considerado uma saída, mas o tiro pode sair pela culatra.
Desde que ganhou destaque no mundo do futebol, Raí mantém sua vida pessoal longe dos holofotes. Fora dos campos, dedica-se a um projeto social que, claro, não rende tanta notícia quanto um suposto envolvimento com outro homem.
Da mesma maneira, Zeca Camargo não abre sua intimidade. Apesar disso, torna-se alvo de humorísticos e de constantes especulações sobre sua sexualidade. Na época do quadro “Medida Certa”, o “Pânico” passou a persegui-lo. O mesmo não ocorreu com sua parceira, Renata Ceribelli. Cabe questionar: por que seria Zeca o alvo preferencial da chacota? É mais fácil fazer piada com alguém que tem a orientação sexual em xeque? Afinal, estamos no país em que piadas de português, gay e loira são infalíveis. Ou não?
Nem Raí, nem Zeca assumiram um relacionamento. Não foram fotografados juntos ou trocando carícias. Ainda assim, há quem diga que já estão inclusive morando juntos. Não há provas, nem confirmações. Por que, então, um assunto como estes vai parar no horário nobre de uma emissora? Ao fazer graça com Zeca Camargo, o “SNL” chegou até mesmo a colocar um ator com o logo do “Fantástico” ao fundo. Não dá para dizer que a homenagem não foi pensada especificamente para o jornalista.
Olhando em retrospecto, são muitos os “rumores” não confirmados que ganham aura de lenda urbana no Brasil. Muitos atrapalharam a carreira em ascensão de várias personalidades. Em entrevista ao iG Gente, Mário Gomes falou do fatídico boato da cenoura, que surgiu no momento em que havia se tornado galã de novelas. Há quem insinue que apresentadores fizeram pacto com o diabo. E, ainda mais comum: que algum artista seja homossexual, como se isso fosse um grande problema. Ainda que seja verdade, não é. Figuras públicas como Zeca, Raí, Bial ou Gianecchini (para ficar nos citados pelo humorístico) têm de tornar públicos apenas os seus trabalhos e não sua sexualidade. E ainda que isso ocorra, tal característica não afeta a obra que constroem. Há que se lembrar que a última vez em que pessoas que não corroboravam com a orientação da maioria tinham de ser identificadas publicamente foi nos tempos do nazismo. Os tempos de hoje são outros, mas ninguém precisa de triângulos rosas sobre o pescoço.
Ao escolher alvos baseados em notícias nunca confirmadas, o “Saturday Night Live” esquece de uma questão básica: e se não for verdade? Terão todos de conviver com uma piada de mau gosto e virar alvo de chacota nas ruas por causa de uma brincadeira sem sentido? Não é com humor desse tipo que a audiência do programa vai subir, isso se pode garantir.
Fonte:Todo Canal
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